Este fim de semana fui confrontada com a morte de alguém muito próximo e querido. Este blog não é para as minhas tristezas nem desabafos... mas fica aqui um tema em aberto para discutir:
Como informar uma criança sobre a morte?
Não é interessante, mas a verdade é que me vi confrontada com isso este fim-de-semana!
Será que o ideal é poupar as crianças desse tema, desse conceito, achando sempre que são pequenas para entender? O ideal é que cresçam sem medo?
O João ainda não entende... ainda não tem percepção de que a morte, seja de alguém querido ou até mesmo de um animal de estimação é mau, e será que algum dia terá essa percepção? Mas embora este blog seja para discutir sobre o tema do autismo, jamais esqueço que tenho outro filho, com 8 anos e que já sente a morte como algo ruim e angustiante. Por isso sinto-me uma peça fundamental para lhe explicar que a morte faz parte do ciclo natural da vida... por muito que neste momento não consiga eu própria interiorizar isso!
Não é que já não tenham tentado abordar o assunto cá em casa, mas sempre fugi a essa explicação. Agora não posso fugir mais, pois nem consigo esconder a tristeza que isso trás.
* Não possso dizer que a pessoa dormiu para sempre ou está a descansar para sempre, pois vai ficar com medo quando tiver que ir dormir.
* Não posso usar a expressão “foi fazer uma longa viagem”, pois não quero que pense que todos os que fazem uma viagem podem nunca mais voltar... ou que a pessoa morte poderá voltar um dia...
Desde criança fui muito poupada a estas situações... por isso hoje em adulta, me custa tanto aceitar e ultrapassar. Por isso sou da opinião que o José e o João não devem ser excluídos dessa experiência, para que eles próprios consigam criar a sua forma e o seu processo de luto. Viverem este processo sem lhes criar em qualquer momento um sentimento de culpa, medo ou trauma.
Neste caso, a pessoa em questão vai ser cremada, mas, habitualmente, o último adeus é o funeral. E se fosse o caso, deixaria eles optarem, de forma a que se não quisessem ir, não se sentissem culpadas por não ir. Mas essa decisão de irem, tem sempre que ser muito bem explicada, pois pode ser traumatizante todo o cenário que vão assistir.
Somos essenciais neste processo de crecimento. Temos de mostrar que somos fortes, que não temos medo e não lhes podemos poupar a esse sofrimento... caso contrário, mais tarde reagirão como nós, da mesma forma – com medo.
Eu sei que tenho de mostrar com naturalidade que este é o ciclo da vida e ajudá-los a lidar com a morte sem problemas.
Não está a ser fácil...
Não o deveria fazer aqui, mas fica a minha pequena despedida, para alguém muito querido!
“É mais fácil dizer ADEUS quando não conhecemos...
Tantas coisas que ficaram por dizer. Mesmo pequenas. Mesmo pouco importantes...
A morte atraiçoou a celebração do nosso reencontro. A morte matou as nossas palavras.
Não falaste, porque não podias, nem uma palavra, um gesto, um sorriso... ficou o silêncio em forma de dor.
Não choras porque tens os olhos fechados, mas eu chorei por ti e ainda choro sempre que me lembro de ti... a tua partida silenciosa faz-me chorar durante dia e noite...
Quero chamar por ti, mas apenas o silêncio responde-me.
Guardo dentro de mim a tua imagem, a memória daquilo que foste e tudo o que aprendi contigo.
A revolta da tua partida ainda está dentro de mim, como os dias são dias e as noites são noites. Sinto que te roubaram à vida num gesto brusco e cruel... nem sequer pude olhar para ti e dizer-te ADEUS nos olhos. Esse ADEUS perdura, vive, como a tua ausência, sentida e que ainda me custa a aceitar.
Não quero dizer ADEUS... quero ficar com a lembrança de como eras em vida. Quero apenas dar um sorriso e dizer até breve... de forma a pensar que não vais desaparecer para sempre.
As pessoas que amamos, mesmo depois de mortas continuam a fazer parte da nossa vida... estarás sempre eternamente no meu coração!
Estejas onde estiveres, sei que vais olhar por mim... e eu vou guardar-te sempre... fica a saber que existe um cantinho no meu coração que é só teu... eternamente teu.
Não perdi o meu Vitor dentro de mim... existirás sempre, ainda que através de todos os que estão vivos.
Aqueles que amamos nunca morrem... apenas partem antes de nós.
Da tua menina...
Sofia”