terça-feira, 20 de novembro de 2007

SOFRIMENTO INTERIOR

Hoje não tenho duvidas que a terapia familiar é importantissima para o sucesso, tanto na ajuda ao João, como na ajuda para mim e quem o acompanha, não perder o controlo e motivação.

Sofro... sim sofro... tenho de finalmente reconhecer que sofro. Estou sózinha, preciso de ajuda. E não sou só eu. Acredito e sinto que o José faz um esforço enorme para tentar entender e aceitar o problema do João.
Reconheço que por muito tempo tentei esconder este sofrimento.

Claro que factores externos, influenciaram o fim deste silêncio - não consigo entender como adultos conseguem infligir sofrimentos nas crianças, principalmente quando esse adulto é o próprio pai...

Tenho de reconhecer, que por pouco me importe o que as outras pessoas pensam, a maior parte das vezes, apercebo-me que faço "todas as vontades" do João, de forma a evitar uma uma crise, uma birra... para evitar aqueles olhares criticos...

CANSAÇO

Não tem sido fácil.
Se uns dias acho que vejo a luz ao fundo do túnel, noutros vejo a escuridão total.
Não está a ser fácil.

Já tinha sido preparada para esta situação. Mas na verdade, nunca se está preparado.
Voltaram as crises e a instabilidade.
Parou de aprender.
Os gritos por vezes são ensurdecedores!

Quando chega o final da semana estou esgotada.
A vigilância tem de ser constante.
Muitas vezes sinto-me envergonhada. Embora neste momento já pouco importa o que as outras pessoas pensam.

Como me sinto?
Cansada... e culpada por sentir esse cansaço.

A equipa do João é composta por grandes profissionais, mas reconheço que tenho uma obsessão. Encontrar o melhor lugar para o João receber o seu tratamento, tanto a nível terapeutico, educacional e emocional, de forma a que me permita não esquecer que tenho outro filho. Filho esse que precisa muito de mim.

É dificil, pois o João monopoliza toda a minha atenção, não me posso distrair.
Dou muito valor ao José: toda a sua paciencia e tolerância.

Muitas vezes oiço um desabafo:
- Porque não tenho um irmão normal?
Mas ao mesmo tempo também oiço o José a falar para o irmão, sózinhos no quarto:
- Tens medo João? Não tenhas. Está aqui o teu irmão mais velho. Eu protejo-te!

Não tenho duvidas que o José adora o irmão. Mas se para mim, que sou mãe, se torna dificil, consigo entender as atitudes e comportamentos do José.

Mas, muitas vezes esses comportamentos não ajudam nada, levando-me mais depressa à exaustão.
É dificil lidar, entender, perceber que para o João não existe "meio termo".
Branco - Negro
Frio - Quente
Não existe uma passagem intermediária..

É sempre de um extremo ao outro!

CONFIANÇA

A evolução do João é notória. Todo o trabalho ganha agora outra dimensão. Mas saber que pode existir uma regressão... por um lado dá-me força para não parar; por outro sinto-me apavorada com essa hipótese. Claro que me agarro ao que é positivo.

O João diferencia:
Meu - Teu
Ouvir o João é uma enorme alegria. Embora tenha consciência que muitas vezes a sua fala é repetição de frases ouvidas - ecolália. Muitas vezes é evidente, pois são frases fora do contexto, mas outras vezes não.

É muito engraçado ouvir:
- Não mexas nisso!
- Vamos ao parque?
São frases que ele ouve em casa, na escola e depois repete.

Sabemos que é um trabalho contínuo. Gostava que algumas pessoas entendessem que o meu papel como mãe e pai é primordial.

Sou cobarde, é verdade. Mas nesta situação tento arranjar a coragem necessária para continuar a trabalhar. Mas sózinha jamais conseguiria.

As pessoas que acompanham o João, que lêem este blog, têm um papel fundamental na minha vida.
São muitas as vezes que questiono o meu trabalho, e essas pessoas ajudam-me a restaurar a minha confiança.

Com o tempo vou sentindo-me mais segura.

Consigo identificar as necessidades do João. Identificar o que gosta, identificar as suas frustações. Aprendemos a lidar e respeitar as suas rotinas, o que permite um clima de segurança e felicidade.

Cada criança é uma criança.
Neste momento, considero todo o comportamento do João suportável. E é muito positivo, porque não seria possivel dizer isto à uns tempos atrás. Por vezes é dificil, extenuante, mas olho para o João e vejo uma criança linda..

... com muita força e coragem!