sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Evolução

De um menino com ausência de olhar, apenas alguns sons, temos hoje um menino que consegue exprimir-se, as frases são cada vez mais bem construídas. Consegue-se integrar com outras crianças. Consegue partilhar e compreende as solicitações!

Até quando... até onde...?? ... conseguirá o João ir?
Ainda é tudo muito frágil... quando se sente angustiado recorre muito às suas defesas autisticas... parece que o seu olhar fica vazio, o mundo apaga... mas já não é tão frequente. Temos mais ataques de fúria, agressividade... mas dando tempo, rapidamente consegue voltar à realidade.

Mais uma vez, apenas quero partilhar com todos a esperança que o João traz consigo...

Anda sempre de chucha e uma fralda de pano... a maior parte das vezes é com a chucha e a fralda que consegue dominar e ultrapassar a angustia que sente dentro de si. Que inicialmente nada o fazia pestanejar, era um olhar vazio!

O tempo, as terapias... sinto que o João começa a dominar os seus medos, que acaba por lhe permitir explorar tudo o que o rodeia.

As terapias são sempre uma incógnita. Será que vai correr bem?
Habitualmente estou presente. Não participo, mas observo!
Terapia uma vez por semana. Será o suficiente? É o que é possível. Tanto pelo nível profissional, como pelo factor financeiro.

Reconheço que inicialmente não estava convencida... mas com o tempo, como já descrevi em comentários anteriores, ver o João a brincar, ver um olhar vivo e a expressão de angustia e sofrimento desaparecer...

As crises do João praticamente desapareceram! Quando as tem, são controláveis. Chora sem lágrimas, e aqui temos de ter atenção. Atenção para não se magoar, controlar o quanto é possivel a sua agressividade.

Depois vêm as lágrimas. Nesta altura sei que a crise passou... sei que tudo vai ficar bem!

A sua capacidade de dominar afirma-se cada vez mais. Os medos desaparecem e as brincadeiras são cada vez mais aventureiras. Sobe para cima de tudo. Tem sentido de humor!! Vai buscar um banco para chegar à janela. Vai buscar uma cadeira para ir ao frigorifico...

Já comentei anteriormente, as férias!!! Nas férias cresceu tanto! Até tenho vontade de voltar lá o mais breve possivel. Esteve presente tantas vezes que me esqueci do seu problema!

As crises diminuiram, mas as provocações são constantes.
É visivel que o João se diverte quando corro atrás dele e grito "não", "anda cá", "não faças isso"!

Está quase a fazer 1 ano te terapia!
Aquilo que sinto? O João está cada vez mais parecido com os outros meninos e por momentos, consigo esquecer o problema do João.

Neste momento os resultados já não são espectaculares, como foram inicialmente. Mas também sinto que tudo aquilo que adquire fica solidificado.

Como já disse, continua muito frágil.
Por vezes parece que está tudo bem, mas a sensação de regressão é frequente.
Tudo o que é novo, qualquer mudança pode levar a situações de ansiedade, crise... e nessas alturas fico angustiada. O que o levou a destabilizar? Como e o que fazer para tudo estabilizar, para terminar com a angustia e sofrimento?

Cada dia que passa, no entanto, sinto o João cada vez mais activo. Comenta muitas coisas que faz. E todos os dias aparece com palavras novas.

O dia-a-dia do João na escola melhorou bastante. Constantemente era chamada à escola, pois o João perdia o controlo de tal forma, que era assustador!

Neste momento consegue participar em actividades da sala, embora a sua ansiedade por vezes é prejudicial.
O João já começa a ter alguma consciência das suas capacidades e adora mostrar-me o que consegue fazer.
Adora legos. Começa a ser sensível à dor...É vísivel quando algo o magoa... começa a chorar...

É visivel que existe uma evolução! Não me canso de o dizer e de me sentir orgulhosa dessa progressão. Embora seja uma progressão quase só possivel de ser vista ao microscópio.

Todo o nosso caminho é feito por momentos bons e maus. Mas ver o João a comunicar cada vez melhor connosco vale por todos os sofrimentos.

Ainda me refugio, ainda me isolo com o João. Não vamos a festas, jantares de convivios, simplesmente, não saio com o João para ir às compras! Quando o João tem crises de raiva, angustia, fugas e agressões a ele próprio e a mim, deixam-me angustiada! Mais do que ficar em casa, no nosso canto, no nosso espaço... e assim não me exponho aos olhares dos outros, ao julgamento...

Estou a perder as minhas referências! Claro que sinto que estou a perder as minhas referências! Referências como mãe... mas jamais vejo a possibilidade e/ou vontade de abandonar a minha missão.

Separação

Fala-se muito na dificuldade que estas crianças têm em lidar com a sepração.
É isso que sinto quando o João vem do pai.
Todo o seu comportamento com o pai é normal, mas quando vem desse fim de semana, que acontece de 15 em 15 dias, o João fica revoltado comigo.

... talvez comece a entender...

O último fim de semana que veio do pai, brincava, e do nada, virou-se para mim e disse-me:
- Não és minha amiga! Vou bater-te!
E dirigiu-se a mim e deu-me um pontapé.
Ralhei e fiquei triste.
Como reacção bateu-me com um carro no rosto.
Foi o suficiente para durante uma hora, sensivelmente, ficar instável.
Depois voltou tudo ao normal, como se nada tivesse acontecido.

Este tipo de reacção começou a ser mais frequente que o desejável, no entanto sinto que já não entra num estado profundo de angustia e catastrófica.

Mas é instavel e penso que, talvez, nunca consiga sentir o João estável...

Música

É impressionante como a música acalma o João.
O reportório é imenso! Até em inglês... o que se torna muito engraçado, tendo em conta que o João não sabe inglês!!!
Qualquer música que passa na televisão: anúncios, desenhos animados, novelas, musicas da escola.
João faz Musicoterapia na APPDA. A sua participação e colaboração é ainda muito pouca, mas o interesse é sempre muito.
Consegue cantarolar canções que ouve uma única vez! Incrivel a sua capacidade de memorizar uma canção.
No entanto, não lhe peçam para cantar! Responde logo:
- Cala-te! - sua expressão preferida...