domingo, 8 de setembro de 2013
O desafio de Incluir sem excluir
É preciso fazer um trabalho justo e eficaz. Adotar critérios que levem em conta a individualidade e o desenvolvimento sem ser comparado com padrões pré-estabelecidos, mas apenas com o seu próprio desempenho, pois cada progresso é mais uma vitória numa batalha que se iniciou no momento do nascimento.
Para o J. inserir-se num mundo cheio de desafios é como enfrentar um inimigo todos os dias.
Esse inimigo ora está vestido de indiferença, de preconceito, de desconhecimento e tantas outras vestimentas que fazem dele um desfaio a serem vencidos todos os dias.
Depois de todos os obstáculos ultrapassados, não existe um momento em que possamos baixar os braços para respirar fundo. Deparamo-nos, mais uma vez, com a descriminação. Deparamo-nos com problemas na inserção do J. no novo ciclo.
Como explicar a um Diretor de agrupamento que a inclusão é a oportunidade de mudar atitudes, pois só quando nos deparamos com os nossos limites é que vemos o quanto é importante procurar alternativas para integrar de forma adequada uma educação inclusiva de qualidade. Só ocorrerá uma educação inclusiva verdadeiramente comprometida global na estrutura e funcionamento da escola inclusiva com essa mudança de atitude. Não basta denominar-se inclusiva!
Somos todos diferentes, pensamos todos diferentes, agimos todos de formas diferentes, sentimos todos diferentes.
E tudo porque vivemos e aprendemos de forma diferente, cada pessoa tem uma visão do mundo própria e com um significado que é resultado das nossas associações.
O que serve para alguns, não significa que deva servir para todos!
Inclusão não é apenas acesso à educação!
Por isso não podemos esquecer que muitos fatores estão envolvidos na mudança. Entre eles a afetividade, o desenvolvimento das potencialidades e até a transformação de alguns conceitos.
Diz a lei que nenhuma criança pode ser alvo de diferenciação, exclusão ou restrição, baseada na deficiência… a escola inclusiva é que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas dos seus alunos…
Coloco então a questão:
Porque tem o J. que mudar de escola, ao contrário de todos os colegas que não têm NEE?
Acima de todos os interesses financeiros deveria estar o fator mais importante na integração destas crianças: a afetividade!
Acima de tudo necessitam de ser respeitados e aceites.
Ser uma criança NEE não significa ter privilégios, e para que que se sinta realmente incluída deverá ter a oportunidade de ter as mesmas responsabilidade que os outros colegas.
É da responsabilidade da escola incluir, sustentar, acompanhar, apoiar, enriquecer e oferecer tudo o que a criança necessita na sua singularidade, para ter êxito no objetivo educativo de integrar.
Na sociedade atual onde predomina a competição e o egoísmo, valores que tornam mais difícil a aceitação de quem dificuldade, e até de quem não têm o fator de empatia e o de colocar-se no lugar do outro, são fundamentais para o fortalecimento da auto-estima das crianças.
A primeira coisa que deve ser trabalhada nestas crianças é a aceitação.
Ninguém é feliz se não for admirado e respeitado!
O mais significativo, tanto para crianças NEE ou não, é que sejam destacados pelo seu potencial e não pelas dificuldades que enfrentam. Destacar as suas qualidades, sejam elas quais forem, e desta forma torna-se o processo educativo válido para todas as crianças.
Concluindo, a inclusão na prática não precisa ser só entendida e aceite por todos, mas valorizada em toda a sua diversidade.
Não bastam espaços físicos adequados, currículos adaptados, professores bem preparados, equipas multidisciplinares, se não forem respeitados nas suas potencialidades.
A escola inclusiva é aquela que é para todos, que reconheça e atenda as individualidades, respeite as necessidades de cada um, e de qualquer um, mesmo daqueles que não apresente nenhum tipo de limitação.
Peca-se muitas vezes por não se tentar, menosprezando a capacidade de cada criança.
A inclusão beneficia todas as pessoas e não só as crianças com NEE. A verdadeira inclusão é para todos!
Não me parece que é obrigando o J. a mudar de escola e separando-o do grupo que o tem acompanhado durante estes 4 anos que é feita a integração.
Parece-me que a escola que deveria integrar o J. precisa re-significar as suas funções politicas, sociais e pedagógicas, adequando os seus espaços físicos, melhorar as condições materiais de trabalho, aprimorar as suas ações para garantir a aprendizagem e ir ao encontro das necessidade de qualquer criança, sem descriminação.
Já percebi que para tudo aquilo que soa como novidade é um processo lento e sofrido, mas não quer dizer, que o seu resultado não será positivo.
Em vez de este Sr. Diretor exprimir a sua discordância de integração destas crianças nesta escola, seria mais fácil para mim entender, mesmo não achando que isso seja desculpa para esta resistência, que é um medo de as receber pois é um papel para o qual não está preparado.
A integração deveria ser um desafio que todos se deveriam propor a enfrentar, pois a homogeneidade é ilusória!
Vivemos num Mundo onde se cria leis para tudo, eu mesma aqui falo de leis, mas a verdade é que uma lei não tem o poder de acolher uma criança, de nada adiantarão as leis se não existirem pessoas que se disponham a acolher as diferenças.
Enfrentar esta realidade, com as dificuldades é difícil, desafiadora e diria até, desconfortável. Mas cabe a nós decidir qual a posição que queremos tomar.
- Seremos meros expectadores ou cidadãos conscientes e humanizados a ponto de estender a mão e compreender que ninguém está imune e que o mundo foi feito para todos.
Desejo que com este testemunho, contribuir para que consigamos pensar num futuro onde a inclusão seja tão natural, quanto a entrada de qualquer cidadão em idade escolar, independentemente das suas limitações, raça, religião e nacionalidade.
‘Hoje a pintura é só um rabisco, mas amanhã começará a incluir cores e determinado dia o desenho será perfeito dentro do contorno do desenho.’
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Notas | exame 4º ano
'Tudo que chega... chega sempre por alguma razão.' Fernando Pessoa

Estava certa a retenção do J.
Não fiquei surpresa nem abalada.
Dou grande importância ao trabalho que se faz na escola, não com o intuito de exibir boas notas, mas porque tenho consciência que é uma forma de poder sobreviver na nossa sociedade sem depender da ajuda de ninguém. Esse é o meu objectivo. Estudar não é um trofeu, é sim um caminho para o J. alcançar a maturidade.
Nenhum problema referente à dificuldade do J. é maior que o preconceito. Seja consciente ou não. É uma tortura assistir a isso de camarote! Cada tempo perdido com esse tipo de discussões, momentos preciosos de estimulo do J. é desperdiçado. E por vezes, com o sofrimento, como humana que sou, desanimo, pois só quero o melhor! Falo de um preconceito chamado ignorância e medo de algumas pessoas que passaram na vida do J. A esperança de melhorar o potencial do J. foi depositada nessas pessoas e nem sempre existiu o retorno esperado.
O relato mais ouvido neste ano lectivo, quando perguntava ao J. o que tinha feito na escola foi: - "Nada. Fiquei a olhar!"
Mas com persistência e luta pelos direitos do J. nem tudo ficou perdido. Começaram-se novas abordagens e métodos.
Deixou de ser importante ser especialista em educação especial. Começou a ser importante que vissem que cada criança é diferente da outra e o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Passou a ser importante a vontade de não desistir, atenção e dedicação.
Evolução no comportamento, grandes conquistas, sem duvida que temos muito para comemorar!
Ao reler alguns posts do blog, vejo o quanto caminhamos e evoluímos.
Celebrar após um longo período de lutas e sacrifícios. Chegou esse momento.
J. cresceu, amadureceu e surpreendo-nos todos os dias. Cada pequena conquista é vista como uma grande vitória.
J. continua doce, amável e conquistador. Por onde passa faz-se notar e encanta!
Olhar para trás e perceber que para além de derrubar barreiras e lutar contra o preconceito, também estivemos rodeados de pessoas que o ajudaram tanto e acima de tudo acreditaram nele. Por isso hoje é dia de festa. É dia de celebrar.
* Quem nos acompanha aqui no blog, deve lembrar-se do último post que escrevi sobre as expectativas nos exames nacionais do 4º ano. *
E a melhor noticia chegou hoje. Recheada de uma carga de drama considerável, mas as notas do J. foram além do que projectávamos.
Conseguiu superar todas as expectativas!
- No exame de português o J. chorou pedindo para telefonarem à mãe.
- No exame de matemática relatou à professora:
"Como não há barulho no exame e os senhores não falam, acho que vou aproveitar para dormir um bocadinho"
Era claro que o grande objectivo não era o J. conseguir transitar de ano.
Hoje na pauta aparece um 2 a português. É obvio que não escreveu somente o seu nome na prova... E apareceu um 4 a matemática!
O J. transitou de ano!?! (não por sinalização de CEI)
Não quero que o J. seja um génio, um poeta ou outro título qualquer grande. Só quero que seja capaz no futuro tomar as suas próprias decisões. Este resultado aumentou a minha esperança de ver o J. preparado para o futuro dentro da sociedade de forma autónoma e capaz.
As lutas jamais serão em vão.
Lutar é a minha obrigação como mãe, mas faço de todo o meu coração!
É certo que a maturidade do J. ainda está longe da idade que tem, mas evolui e conquista-nos todos os dias.
O caminho a percorrer é longo, mas hoje tenho a certeza que estamos no caminho certo!
Quero deixar o meu obrigado a quem acreditou!
terça-feira, 7 de maio de 2013
exame 4º ano
desenho J.: mãe beijinho |
Sim, estou muito nervosa. Mais ansiosa que o J.; sem dúvida! O J. não tem noção do que significa este exame, por isso será somente fazer algo que os amigos também fazem.
Para nós? Para nós é uma conquista!
Conseguirá o J. escrever o seu nome completo? Conseguirá escrever o nome da escola? Conseguirá ficar na sala durante os 90 minutos?
Será uma experiência enriquecedora.
Mas quando penso que o J. terá de assinar um termo de responsabilidade, em como não leva um telemóvel para o exame… Entre as lágrimas de nervosismo, tenho vontade de rir. Que valor jurídico tem um documento assinado por um menor? É demasiado ridículo. Para o J. isso ainda é mais absurdo! O J. não tem telemóvel, nem vai perceber porque tem de assinar aquele termo de responsabilidade.
Isto hoje foi um simples desabafo. Da mamã que está muito ansiosa.
Não é uma postura contra os exames, mas de certa forma, revoltada como tudo é tratado. Não faz mais sentido o termo de responsabilidade ser assinado pelos pais?
É verdade que antigamente também se faziam estes exames, mas antigamente, após o 4º ano, a maioria das crianças começava a trabalhar. Não é isso que queremos para as nossas crianças, pois não? Tudo deveria ser feito com peso e medida, adaptado à nossa realidade actual.
Para descontrair um pouco partilho convosco a preocupação do J. relativamente a estes exames:
* 'Alguém disse ao J. que iria chumbar no exame. Alguém que gosta de usar os palavrões inventados pela nossa sociedade.
O J. veio para casa intrigado e lá decidiu perguntar-me:
- Mãe o que é chumbar?
* Ontem o J. conheceu a Professora que o irá acompanhar no exame. Fiquei curiosa para saber o que ele tinha achado e comecei a fazer perguntas básicas.
- J. gostaste da Professora?
- Sim, mãe.
- E como é que é a Professora? É alta, magra, morena… ?
- É grávida!
E é assim, já sei como é a Professora que vai acompanhar o J. no exame de hoje e de 6ª feira.
Bom, hoje é um dia especial para a nossa família.
Mais uma conquista na vida do J. que acredito que mais uma vez nos irá surpreender.
sábado, 30 de março de 2013
2 de Abril - Dia Mundial da Consciencialização do Autismo

A ação de rua, a realizar às 14.00horas na entrada principal do Centro Cultural de Belém, inclui desfile e atuação do grupo de instrumentos de percussão da APPDA-Lisboa , cujos membros vestem t-shirts alusivas, largada de balões azuis e distribuição de informação.
Associando-se à Federação Portuguesa de Autismo (FPDA) e a Autisme-Europe, de que é filiada, a APPDA-Lisboa adere à iniciativa “Acenda uma Luz Azul” de Autism Speaks e ilumina a azul as noites de 1 e 2 de Abril as instalações da sua sede no Alto da Ajuda.
Ainda no dia 2 de Abril a APPDA-Lisboa participa na sessão promovida FDPA na Fundação Calouste Gulbenkian, nomeadamente através da sua banda jazz.
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Dia Mundial da Consciencialização do Autismo
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