terça-feira, 15 de julho de 2014
PDS - Educação
"A educação e o ensino são as mais poderosas armas que podes usar para mudar o mundo." - Nelson Mandela - África do Sul 1918/2013
Todos os anos, o início do ano letivo é penoso, doloroso e difícil. Este ano foi ainda mais, pois com a mudança de escola, de turma e de ciclo, essa adaptação foi ainda mais difícil.
Todas as mudanças são difíceis, mas este ano foi especialmente penoso: - começou por as boas vindas na unidade ter sido: oh João! Não deverias estar aqui!
- a turma onde foi inserido estava junta de um ano anterior, mas não existiu o cuidado de ser apresentado à turma.
- eu, mãe, tive de tomar a iniciativa de ensinar o J. a comprar as suas senhas de almoço, pois no início não foi muito bem recebido pela unidade, tal como já referi anteriormente, devido a divergências entre mim (mãe) e a professora de ensino especial, que não teve capacidade de separar as "águas".
- no início foi difícil para o J. gerir o seu horário escolar. Era uma realidade escolar nova e para o qual não estava preparado. Conciliar as várias disciplinas, várias salas, novos espaços e sem qualquer atenção para o ajudar, o que o levou a faltar a algumas disciplinas e não existiu qualquer preocupação por parte desta unidade.
- o trabalho desenvolvido na unidade não ia ao encontro com as aulas a que ia assistir.
- insistência de perguntar ao J. se tomava a medicação ritalina, mas depois o trabalho executado na unidade era a data de nascimento!? E coloco a questão: qual a necessidade de passar a responsabilidade que deve tomar a medicação e pior, associar o seu mau comportamento à ausência deste medicamento. O J. chegou a afirmar que não conseguia portar-se bem, porque precisava de medicação! Não é assim que pretendo que o J. cresça! A medicação é para a concentração e não para o bom comportamento ou domesticar uma criança.
A instabilidade está instalada!
Foi um ano letivo difícil e a constatar o aumento de obsessões e comportamentos agressivos.
- bater numa colega que o fez perder um jogo
- a frustração das notas dos testes
- não permitir que lhe mexessem na mochila
- partir um vidro na escola
- recusar trabalho
E em casa...
- partiu um computador
- antes de se deitar as cadeiras têm de estar alinhadas
- os comandos de televisão igualmente arrumados
- os sapatos juntos e alinhados
- insistência de não mudar a rotina do caminho escola/casa
- insistência nos termos corretos:
- não são persianas - são estores!
- não é atalho - é corta mato!
E agora chega o final do ano letivo. Com altos e baixos o J. é confrontado mais uma vez com uma mudança na sua rotina, nos seus hábitos, na sua adaptação.
Estando matriculado por disciplinas, o conceito de chumbo do ano não se aplica na realidade escolar do J. Mas tendo ele consciência que tem negativas, concluiu que chumbou o ano. Mas a pior notícia que pude dar ao J. foi que no próximo ano já não será nem 5ºA, nem o 6ºA. Portanto teria de voltar a adaptar-se a novos amigos, a novos professores, a novas disciplinas e a novo horário.
O choro foi inevitável, a instabilidade e tristeza instala-se de novo na nossa relação e no nosso dia-a-dia.
Tomou consciência das consequências desta mudança! Então iria deixar de ter educação física? Consegui tranquiliza-lo, pois a atitude na escola foi muito positiva nesta situação e foi decidido que embora já tenha tido a nota positiva em educação física, iria continuar a poder frequentar, não sendo neste caso avaliado.
Entretanto chega a nossa consulta de desenvolvimento.
Foi uma consulta emotiva. Muitas vezes tive de fazer uma pausa, para conseguir continuar... inevitavelmente aslgumas lágrimas caíra, e a voz tremeu.
Tento que o J. seja participativo nas suas consultas.
Pedi para ele contar as novidades:
- Mãe, começa tu!
No meio do discurso pedi-lhe para falar sobre o que sentia em relação à nova turma:
- Estou muito triste. Agora que já estava a habituar-me aos novos amigos...
Fez-se um pausa... fez-se um silêncio doloroso...
Como mãe, tem sido doloroso para mim constatar este novo quadro.
É tempo de parar. É tempo de parar para pensar em novas estratégias... e ganhar força para mais uma vez iluminar esta esta estrada em que a luz começou a fraquejar...
Mas da consulta concluímos que a medicação não é readaptada há muito tempo. Mas o crescimento do J. não parou. Neste momento o J. entrou em desmame da medicação.
Chegou de novo o momento de ponderar os prós e contras de retirar ou não a medicação...
Isto é o que temos sem medicação. Um J. instável, agressivo e em sofrimento.
O cenário ideal seria não ser necessário tomar a medicação, mas com este quadro... Tenho de admitir que não podemos suspender a medicação.
Assim vamos começar uma nova etapa!
- lidar com a entrada do J. na adolescência
- ajuste na medicação - risperidona
- um novo PEI
- novas estratégias
- e continuarmos a ser felizes!
Agora vamos de férias, mas vamos continuar por aqui!
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2 comentários:
Boa tarde, acompanho seu blog sempre que me é possível e as suas publicações tocam-me sempre de uma forma muito emotiva. Na sua mensagem, expõe os assuntos de uma forma muito inteligente e sensível, focando aspectos muito importantes para o desenvolvimento e crescimento do J. Ao ler esta sua última mensagem, fiquei especialmente preocupada... para além do apoio pedagógico, o J. beneficiava de ter um acompanhamento terapêutico de abordagem funcional, isto é, voltado para o desenvolvimento de competências úteis para o seu dia-a-dia. Este apoio terapêutico seria um importante complemento para o desenvolvimento de competências pessoais, a tal base segura que permitirá ao J. organizar-se e estruturar-se, fundamental para o eventual futuro "desmame" da medicação.
Não sei se já benefiam de algum tipo de acompanhamento terapêutico, mas em caso nagativo poderá ser uma ajuda a considerar.
Boas férias e bom descanso :)
Elsa Margarido
Olá Elsa,
Na ultima consulta pedi apoio, mais concretamente, na área de pedopsiquiatria, para conseguirmos ajudar o J. a organizar-se. Neste momento, não conseguimos o acesso de imediato, pois a médica encontra-se em baixa de maternidade. E ficamos assim... em lista d espera...
O J. está a crescer, está a entra na adolescência, e de facto, se para qualquer criança, esta etapa é dificil, para o J. acho que requer mais atenção, pois ele não sabe gerir esta mudança vs imaturidade vs diagnóstico que começa a consciencializar :(
Muito obrigada pelas palavras.
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