sexta-feira, 13 de junho de 2008

Aceitar a diferença


Nas minhas infinitas pesquisas sobre autismo, sempre na tentativa de saber mais e mais, para conseguir fazer melhor e melhor, encontrei esta imagem e achei maravilhosa!

Alguns insistem em dizer que este blog é um blog pessoal, em que é onde exprimo os meus sentimentos, as minhas emoções, mas continuo a afirmar que estão errados. Nem um jornalista consegue ser isento nas reportagens que faz, nos artigos que escreve. E eu sou humana, mas o objectivo deste blog não é expor-me como ser humano, mas sim de partilhar informação sobre este tema para que com o máximo de informação disponivel consigamos os melhores resultados possiveis.

Cada criança é um caso, cada criança tem as suas próprias caracteristicas, mas muitas vezes ao ler as experiências partilhadas por outros pais consigo ter "imaginação" para novas estratégias.

A existência deste blog não é para elogiarem o meu trabalho, não preciso que me dêm os parabéns pelo meu trabalho, não sou nenhuma vitima, não sou nenhuma heroína... esta é a minha missão, minha OBRIGAÇÃO como mãe.

E assim vou continuar... e aqui vou continuar a partilhar tudo o que sei, para quem achar que sai daqui a ganhar com a informação que disponibilizo - informação, estratégias, actividades, jogos didácticos, pec´s ...

O que constato é que autismo me parece um tema que está na moda. Ou é mesmo a sociedade que acordou para esta realidade? Não consigo ainda chegar a uma "conclusão"...

Se pergunto às pessoas se sabem o que é... Autismo...??!!! Já não é uma palavra desconhecida. Mas não sabem o que é. Já ouviram num filme, numa revista... e depois a ideia que fica não corresponde à verdade. Pois esses filmes, esses artigos, dão a ideia que autistas são pessoas muito inteligentes em determinadas áreas, ou então que são pessoas fechadas no seu próprio mundo.

A verdade é que até eu tenho dúvidas!
As únicas certezas que tive foi que aos 2 anos era suposto o João falar, conversar, rir... mas com 2 anos não falava, não brincava e isolava-se... tivemos sorte... alguém nos falou na possibilidade de o João ser diferente. Começou a ser colocada a hipótese do diagnóstico ser Autismo. Fomos bem reencaminhados e foi diagnosticado... a tempo de podermos fazer alguma coisa e de revertermos (minimizar!!) a situação.

Não existem curas, mas quanto mais cedo é feito o diagnóstico, quanto mais cedo começar a ser trabalhado e estimulado, maior a probabilidade da taxa de sucesso. E o factor sorte... nesta idade o diagnóstico não é definitivo... e eu acredito que o João vai sair deste diagnóstico...

Mas nem todos têm a nossa sorte... e quando se ouve a palavra autismo... ficamos assustados!
Porquê? Como? Qual é a causa? ... - apenas sabemos as consequências... a sociabilização fica comprometida, a comunicação... a imaginação!!!!

Mas com tudo isto, quero apenas defender o que muitos outros pais defendem. O que muitos outros educadores defendem. O que os próprios autistas, que com as suas limitações conseguem vencer e ultrapassar as dificuldades e barreiras que lhes vão surgindo... RESPEITO. Respeito pela diferença. A grande dificuldade que nos surge, já não são as dificuldades caracteristicas próprias do autismo, mas sim a aceitação, o respeito e integração na sociedade.

E como mãe de uma criança com estas caracteristicas, vou lutar e não vou baixar os braços.

E também mais uma razão para a existência deste blog...

Desconhecemos as causas... mas com o avanço da medicina, fica a esperança de conhecermos mais, e permitir fazer um diagnóstico o mais cedo possivel... e assim o mais cedo possivel trabalharmos.

No meio do "azar" temos sorte... o caso do João não é dos mais graves.
Existem autistas que não falam, não olham, não mostram interesse nos outros... o João passou por esta fase, mas felizmente, como muitas vezes o descrevo, essa fase está ultrapassada! Dizem os especialistas: autistas de alto-funcionamento. Se é isso ou não, não vou confirmar, pois não foi esse o diagnóstico dado, mas a verdade é que o João já fala, mostra interesse em aprender e está com menos dificuldades na integração, e acredito que vai conseguir especializar-se numa profissão e criar vinculos com as pessoas.

O que me deixa mais revoltada é que tudo isto é possivel, seja qual for o grau... basta ter um tratamento acompanhado por profissionais competentes, credenciados, com conhecimentos especificos nesta áera e é possivel desenvolverem todas as suas potencialidades para lhes permitir serem o mais independentes possiveis.

É um direito que têm!

Mas não é a nossa realidade.
No caso do João com a grande ajuda de familiares (avós maternos) temos conseguido esse apoio, e não baixamos os braços... e os resultados estão à vista. E por isso não desistimos, e será sempre o nosso grande investimento!

Infelizmnte nem todas as crianças têm uns avós como têm os meus meninos. Muitas vezes não se trata de capacidade finaceira, mas de sacrificios financeiros que são capazes de fazer para que isto seja possivel. E aqui tenho de reconhecer, tenho de me expor, somos uns priveligiados!

É dificil entender quando vemos uma criança a gritar, sabe-se lá porquê, sem expressão, e passar por cima de tudo que lhe aparece à frente... não se comporta como a sociedade exige que se comporte... e por isso é rejeitada... e em vez de estarmos a ajudar, estamos a piorar...

Não é por escolha própria que brinca sózinho, não é tímido nem calado. Não é uma criança dificil, nem mimada.. Não são acessos de raiva por qualquer coisa que quer... é dificil entender isto... eu própria tenho dificuldade em entender.

A experiência já me permite perceber e compreender quando o é ou não... mas quando somos "ignorantes" na matéria, não podemos logo rejeitar e excluir!

Só quero que a mensagem passe... e que com ela se consiga que sejam aceites como são, com as suas caracteristicas próprias, mas não deixam de ser individuos, um ser humano, com capacidades, com sentimentos e como tal merece respeito como individuo que é... mesmo sendo autista!

Apenas temos de aceitar o que é diferente. E infelizmente a nossa sociedade, hoje e sempre, as diferenças incomodam o ser humano.
A sociedade rejeita o que é diferente na forma de agir, no pensar, como se comporta, seja essa diferença física ou mental.

Isto tem uma explicação. Faz parte da natureza. O animais também o fazem. Rejeição do que é considerado uma fragilidade da espécie. Mas nós temos o privilégio de sermos animais racionais! Por isso capazes de aceitar e tolerar.

E eu no meu papel de mãe... tento divulgar ao máximo e consciencializar sobre o tema.

... PASSO AGORA A PALAVRA... ;o)

6 comentários:

Luminosa disse...

"Isto tem uma explicação. Faz parte da natureza. O animais também o fazem. Rejeição do que é considerado uma fragilidade da espécie. Mas nós temos o privilégio de sermos animais racionais! Por isso capazes de aceitar e tolerar."

Acho que aqui diz tudo... Nós somos animais racionais, e é isso que nos diferencia dos outros animais... Então vamos lá utilizar o nosso cérebro enche-lo de cor, amor e tolerância... Vá façamos-nos dignos do termo que utilizamos para nos diferenciar... "RACIONAIS"... é isso não é... então que o sejamos...
Olá João! Ainda agora te "conheci" e já gosto de ti... e com toda a sinceridade de todos os que te apoiam... Força MÃE!!! BJO*

CláudiaMG disse...

Olá Sofia

Desculpa, mas tenho de elogiar este Post e a forma como conseguiste descrever toda a situação.
Efectivamente a diferença é algo que assusta a nossa sociedade, pois a nossa sociedade não está preparada para aceitar essas diferenças.
Por isso compete-nos a nós Pais e Mâes "re-educar" a nossa sociedade e dessa força mudar mentalidades e culturas.
Claro que isso não é fácil, nem nunca será, mas acredito que com o nosso empenhho puderemos ir mudando algumas coisas no meio onde vivemos, nos amigos, no trabalho, na escola dos filhos e aos poucos conseguiremos abranger cada vez mais pessoas e fazê-las compreender que a diferença não é algo mau, é simplesmente diferente.

Desejo-te muita força e muita coragem para ti e para a tua família.

Um grande beijinho
Cláudia, Madalena e Guilherme

Grilinha disse...

Cada um de nós pode ter uma papel na sensibilização para a diferença. Um dia escreveram-me um comentário no meu post que dizia - "desde que comecei a ler o seu blog, olho para as crianças diferentes de outra maneira"...Ora bem. Sensibilizar, alertar outros pais para o que fazer ou só mesmo mostrar a nossa dificil, mas não dramática realidade. acho que só fará bem.
É importante que percebam que é dificil, porque nos poderão como sociedade ajudar, quer seja em novas leis ou o abraçar de projectos que nos ajudem. Mas desdramatizar a questão da tragédia, porque eles são crianças, em tanta coisa parecidas com todas as outras.

Pelo que vejo estás determinada e com muito sucesso.
Haja muitas mais mamãs como tu !Dando asas ao amor, trabalhando e enfrentando as coisas, cada dia.

Um beijinho muito grande.

Mrs_Noris disse...

A marginalização/segregação/discriminação começa no Ensino, com a institucionalização dos alunos com necessidades educativas especiais, muitas vezes vistos como elementos perturbadores nas turmas do ensino regular.
Não nos podemos calar.

Line e os Terroristas disse...

Desejo-te muita força e felicito-te pelo os teus blogs :) Haja muita gente como tu com essa força, enfrentando as dificuldades que surgem.
Bjs
Caroline

Unknown disse...

Pois MÂE SOFIA
PARABENS pelo seu trabalho SIM
Parabens e muito obrigado por partilhar connosco - pais / técnicos / curiosos , .... o seu sentir que pode ser ou não semelhante a muitos de nós.
Obrigado pela sua infinita capacidade de PARTILHA, decerto que este seu potencial tem reflexos no seu viver.
Grata pelo testemunho nas diferentes situações, pela noção da evolução que nos vai dando - é como se uma alegria sua passa também já a ser nossa, assim como a sua lágrima.
Grata pelo material que nos mostra e disponibiliza, tão útil, tão útil...
Grata por nos ajudar a crescer consigo nesta viagem.
Será sempre um prazer passar por aqui!
Um xi Coração
Cris