domingo, 3 de abril de 2016

CEI | olhar com os olhos do coração



Depois de recusar um CEI
Hoje é dia de mais uma partilha, mais um dia de reflexão. Uma mensagem para todas as mães, uma mensagem para toda a sociedade, uma mensagem para mim, uma mensagem para TODOS!
João, como autista que é não entende as coisas da mesma maneira que as outras crianças e por isso apenas precisa que as coisas lhe sejam explicadas de forma diferente para entender.
Mas para que esta luta tenha um final feliz é preciso vestir a camisola. Vestir a camisola do Autismo.
Não tenho vergonha e acima de tudo acredito nele e nas suas capacidades. Acredito que é capaz de tudo o que quer. E acima de tudo tenho muito orgulho de todas as suas pequenas e grandes conquistas.
Por isso luto, luto pelos seus direitos. Pode demorar 1 ano, 2 anos, 3 anos, mas não desisto e não baixo os braços. Por muito cansativo e extenuante que seja, é preciso respeitar os seus direitos, mas acima de tudo respeitá-lo como ser. Nem sempre é fácil, se é uma luta extenuante para mudar as mentalidades e o preconceito também é extenuante trabalhar e lidar com uma criança autista diariamente. Mas a verdade é que o que ele tem não é assim tão grave! Ele apenas tem uma forma diferente de ver e entender as coisas. Apesar de todas estas dificuldades, a verdade, e já disse em post anteriores, é que uma criança autista permite-nos descobrir emoções que muitas vezes não sabíamos possíveis de sentir. Chorei de felicidade na primeira vez que deu um chuto na bola, chorei de felicidade cada vez que acrescentava uma palavra nova ao seu vocabulário num contexto correto, sem ser ecolalia... Emociono-me em cada pequena conquista, em cada beijo, em cada abraço. Ser mãe de um autista, no meu caso, como mãe do João , é viver intensamente quando me pede para dançar com ele, quando me chama a atenção para não gritar, quando cuida do seu mano, assumindo um papel de irmão mais velho.
É verdade que ser mãe de um autista é estar sempre a lutar. Lutar para que percebam o que é o autismo, lutar para que tenham capacidade de respeitar a sua própria forma de estar, viver, entender e aprender. É viver indignada com as faltas de apoio, com a falta de legislação adequada, de conseguir conciliar trabalho profissional com todas as consultas de acompanhamento necessárias, todas as reuniões de escola que são necessárias para exigir o respeito pelos seus direitos, para que não seja só mais um número. É trabalhar muito, é lutar muito, é chorar muito, mas também rir muito. É tudo vivido com muita intensidade. Mas sou muito feliz e muito, muito orgulhosa por toda a sua força e tudo aquilo que apenas ele me consegue fazer sentir.
Não acredito na teoria de que ter um filho autista é um presente, que só é "dado" a mães consideradas especiais.
Enquanto todas as mães falam da felicidade de ver os seus filhos a darem os primeiros passos, as primeiras palavras, de aprender a comer sozinho... Tudo isto até aos 2/3 anos, a mãe de um autista vê as suas conquistas dia a dia, ao longo de toda a sua vida, para o resto da vida. Mas também vejo o meu filho a fazer e conquistar coisas que todos dizem ser impossíveis. É um orgulho gigante e muito verdadeiro.
Na verdade, ser mãe de um autista é também passar a ver o mundo de uma forma diferente, aprender a ter mais paciência, a ser mais mãe a toda a hora. Permitiu-me também aprender a lidar com meus outros filhos, falo com eles sempre a olhar nos seus olhos, a dar mais atenção aos pormenores, e consigo ver e identificar a felicidade nos olhos de cada um. Aprendi a olhar com os olhos do coração. Tanto para os meus filhos, como para todas as outras crianças, pois todas as crianças são mágicas e as crianças "diferentes" também têm a sua magia. São doces e encantadores. Não é preciso ter pena, apenas apoio e compreensão. Existe uma infinita felicidade em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar do coração. Que todos consigam sentir, viver e ver uma criança autista, como eu consigo ver o meu João por dentro e sentir o seu coração... E acima de tudo que consigam ver o futuro maravilhoso que vejo para o meu menino João autista. Porque esse futuro maravilhoso é possível. Depende de mim, depende de nós, depende de todos!
E hoje choro estupidamente, de felicidade, quase histérica por mais esta conquista

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