segunda-feira, 6 de outubro de 2008

EMOÇÃO - MORTE



Este fim de semana fui confrontada com a morte de alguém muito próximo e querido. Este blog não é para as minhas tristezas nem desabafos... mas fica aqui um tema em aberto para discutir:



Como informar uma criança sobre a morte?

Não é interessante, mas a verdade é que me vi confrontada com isso este fim-de-semana!
Será que o ideal é poupar as crianças desse tema, desse conceito, achando sempre que são pequenas para entender? O ideal é que cresçam sem medo?

O João ainda não entende... ainda não tem percepção de que a morte, seja de alguém querido ou até mesmo de um animal de estimação é mau, e será que algum dia terá essa percepção? Mas embora este blog seja para discutir sobre o tema do autismo, jamais esqueço que tenho outro filho, com 8 anos e que já sente a morte como algo ruim e angustiante. Por isso sinto-me uma peça fundamental para lhe explicar que a morte faz parte do ciclo natural da vida... por muito que neste momento não consiga eu própria interiorizar isso!

Não é que já não tenham tentado abordar o assunto cá em casa, mas sempre fugi a essa explicação. Agora não posso fugir mais, pois nem consigo esconder a tristeza que isso trás.

* Não possso dizer que a pessoa dormiu para sempre ou está a descansar para sempre, pois vai ficar com medo quando tiver que ir dormir.

* Não posso usar a expressão “foi fazer uma longa viagem”, pois não quero que pense que todos os que fazem uma viagem podem nunca mais voltar... ou que a pessoa morte poderá voltar um dia...

Desde criança fui muito poupada a estas situações... por isso hoje em adulta, me custa tanto aceitar e ultrapassar. Por isso sou da opinião que o José e o João não devem ser excluídos dessa experiência, para que eles próprios consigam criar a sua forma e o seu processo de luto. Viverem este processo sem lhes criar em qualquer momento um sentimento de culpa, medo ou trauma.
Neste caso, a pessoa em questão vai ser cremada, mas, habitualmente, o último adeus é o funeral. E se fosse o caso, deixaria eles optarem, de forma a que se não quisessem ir, não se sentissem culpadas por não ir. Mas essa decisão de irem, tem sempre que ser muito bem explicada, pois pode ser traumatizante todo o cenário que vão assistir.

Somos essenciais neste processo de crecimento. Temos de mostrar que somos fortes, que não temos medo e não lhes podemos poupar a esse sofrimento... caso contrário, mais tarde reagirão como nós, da mesma forma – com medo.

Eu sei que tenho de mostrar com naturalidade que este é o ciclo da vida e ajudá-los a lidar com a morte sem problemas.

Não está a ser fácil...


Não o deveria fazer aqui, mas fica a minha pequena despedida, para alguém muito querido!

“É mais fácil dizer ADEUS quando não conhecemos...
Tantas coisas que ficaram por dizer. Mesmo pequenas. Mesmo pouco importantes...
A morte atraiçoou a celebração do nosso reencontro. A morte matou as nossas palavras.

Não falaste, porque não podias, nem uma palavra, um gesto, um sorriso... ficou o silêncio em forma de dor.
Não choras porque tens os olhos fechados, mas eu chorei por ti e ainda choro sempre que me lembro de ti... a tua partida silenciosa faz-me chorar durante dia e noite...
Quero chamar por ti, mas apenas o silêncio responde-me.
Guardo dentro de mim a tua imagem, a memória daquilo que foste e tudo o que aprendi contigo.
A revolta da tua partida ainda está dentro de mim, como os dias são dias e as noites são noites. Sinto que te roubaram à vida num gesto brusco e cruel... nem sequer pude olhar para ti e dizer-te ADEUS nos olhos. Esse ADEUS perdura, vive, como a tua ausência, sentida e que ainda me custa a aceitar.
Não quero dizer ADEUS... quero ficar com a lembrança de como eras em vida. Quero apenas dar um sorriso e dizer até breve... de forma a pensar que não vais desaparecer para sempre.

As pessoas que amamos, mesmo depois de mortas continuam a fazer parte da nossa vida... estarás sempre eternamente no meu coração!
Estejas onde estiveres, sei que vais olhar por mim... e eu vou guardar-te sempre... fica a saber que existe um cantinho no meu coração que é só teu... eternamente teu.
Não perdi o meu Vitor dentro de mim... existirás sempre, ainda que através de todos os que estão vivos.
Aqueles que amamos nunca morrem... apenas partem antes de nós.

Da tua menina...
Sofia”

9 comentários:

Cristina disse...

A minha avó faleceu este fim de semana. Foi uma morte que já se esperava, mas isso não alterou em nada a dor e a saudade, tivemos apenas algum tempo para nos prepararmos, se é que alguém está, alguma vez, preparado.
Ainda não disse nada ao Pedro, embora já tenha falado com ele sobre a morte das pessoas e dos animais. Como ele ainda só tem 5 anos tenho-lhe dado uma explicação, ao nível da sua compreensão e que não o choque. Para quê grandes explicações que ele não entenderia e só lhe iriam causar ansiedade, stress e medo? Tenho-lhe dito que as pessoas ficam velhinhas e que um dia morrem, vão para o céu e transformam-se em estrelas que podemos ver à noite. Quando ele crescer terei de pensar em algo mais real, mas para já esta explicação basta. No caso do teu filho mais velho terá de haver uma explicação mais concreta.

As crianças deverão ou não assistir ao funeral?

Como tu, eu também fui poupada nesse aspecto e agradeço aos meus pais por isso, pois não sinto que esse facto me tenha deixado mais "despreparada". Penso que aprender a lidar com a ideia da morte faz parte de um processo de amadurecimento interior e de aceitação do ciclo da vida. Por isso questiono-me sobre os reais benefícios em deixar as crianças assistir a um funeral. Será que os ganhos são superiores aos traumas? E será que têm capacidade para decidirem se querem ou não ir? Tenho dúvidas.
Eu vou continuar a falar ao Pedro do ciclo da vida e a prepará-lo para enfrentar a morte, mas irei poupá-lo o mais possível.

Por outro lado, acho que não há uma forma ideal para informar as crianças sobre a morte, isso depende do enquadramento, do envolvimento com a pessoa que nos deixa, dos valores e crenças que temos, do desenvolvimento e maturidade da criança, esses são, na minha opinião, os factores fundamentais que permitem moldar a informação a passar à criança. O importante é encontrar uma resposta que eles consigam entender e que não os deixe inseguros.

Mina disse...

Sofia
Tenho estado aqui a pensar, que puderia escrever, para apaziguar a sua dor, e cheguei á conclusão que nada. Esta dor ninguém nos tira nem apaga, mas a minha amiga tem um discurso que a vai ajudar a superar.
Eu já perdi, ou antes vi partir os meus dois progenitores em fases distintas da minha vida um aos quinze anos outro aos quarentas, e ambos estão sempre comigo, principalmente a minha mãe que foi a última a encontrar o paraíso, continuo a conversar com ela.

Sobre como dar a noticia, ou se a criança deve participar ou não é sempre "um pau de dois bicos", no caso dos meus em relação á avó tiveram conhecimento na mesma altura que eu, ia-mos visita-la ao hospital e ela já não estava, viram o meu pranto.A miúda que na altura tinha 8 anos decidi não levar nem ao velório nem ao funeral, queria que ela ficasse com a imagem da avó viva, mas agi mal, até porque ela tbm se queria despedir da avó ,e eu que quis protege-la.
Em relação ao Aspie já tinha 17 anos tbm não participou nas cerimónias funebres, pois tive receio das atitudes dele, até porque eu disse-lhe que a avó tinha partido, e ele muito pragmatico, porque que não dizes morreu, ela não partiu, o porquê que choras respondi-lhe que estava triste ele achava que não era motivo, até porque a avó já era velhinha dizia ele.

Passados uns dias levei-os ao cemitério, para eles verem onde estava o corpo da avó.A pequenota ficou perturbada, e aí fiquei ainda mais preocupada, e achei que secalhar ela devia ter-se despedido da avó. Em relação a ele foi na boa, pronto já sabe a nova morada da avó.
Este foi um resumo das partidas que deixaram pegadas no meu ser...
Por isso eu acredito que a morte não é o fim...
Bjocas

Anónimo disse...

Momentos difíceis. A vida continua em respeito à memória dos que amamos e partem. Recordemo-los quando fazemos as coisas o melhor que sabemos. As pessoas não nos deixam. Ficam cá dentro e em qualquer momento nos lembramos e sentimos a sua presença ou ausência...

Saudações e um sorriso de ânimo

Anónimo disse...

Como eu te compreendo.
Já me pasou pela cabeça, pelo facto de ser pai a tempo inteiro, de se um dia me ocorre-se a ausência da Rosa, como explicar isso ao Pedrinho.
Situação que não o desejo para mim nem para ninguem.
Mas infelizmente a vida é assim.
Boa sorte!
Bjinhos.Pedro

LOBITAS disse...

Pois eu sou da opinião de que as crianças devem participar no funeral e despedirem-se dos entes queridos, não é facil, mas aí é que se tem que esplicar o ciclo da vida.
Sempre foi aos funerais desde que me lembre e não acho que tenha ficado traumatizada de modo nenhum.
Beijinhos grandes e os nossos sentimentos.
força.
As lobitas

LuisaB disse...

Querida Sofia
Cada um sabe dentro de si o que é mais certo é o que o coração nos disser.
Eu em miúda sempre assisti aos funerais e até a fazer velório naquela altura que se praticava em casa. Devo dizer que nunca mais eu conseguia entrar naquela sala onde me lembrava da urna, as cortinas roxas, nunca mais suportei a cor roxa em tecidos, vem logo ao meu pensamento aquelas celebrações. Deixaram-me sempre assistir porque eu queria ver ter a certeza que a pessoa estava mesmo morta eu ouvia falar de enterrarem as pessoas vivas e então só com os meus olhos e estando ali de vigia podia detectar algum movimento que alguém não se apercebesse e a pessoa tinha mesmo de estar morta e eu tinha de ter essa certeza absoluta dentro de mim, lá a pele estar fria para mim nem contava...
Passava depois dias e meses a sonhar com aquelas imagens, mas eu era uma miúda forte.
Hoje já não tenho assim essa coragem!
Penso que nos dias de hoje a criança ver a pessoa ali deitada e despedir-se atirando um beijinho sem sentir aquele frio gelado na pele ...não deve impressionar muito e sendo a pessoa em questão próxima da criança pode compreender melhor o que é a vida e a morte. Claro que há que escolher as palavras certas a dizer para explicar e isso também depende da maturidade e vivências da criança.
Eu levo o meu filho ao cemitério onde está o meu Pai e ele diz ò Mãe v/ são tão "tonhos" o avô já não está ali, já se tornou em pó, não te vê nem te ouve para que pões aí flores e falas com ele?
Mente autista não é? E eu respondi que cada um celebra o seu culto os seus entes queridos como na história que ele aprendeu onde se faziam as Antas e rezavam os seus mortos. Ai ele entendeu mas respondeu logo que se um dia eu morresse e ele fosse vivo que não andava lá a por flores nem a falar comigo que eu estaria dentro dele na mente dele no sentir dele e não onde não estava mesmo. Fiquei desarmada pois eu queria que alguém me levasse flores de vez em quando!
Abracinhos e força, mas recorde que fisicamente quem morre não está cá entre nós mas…está no sentir, no ser, no estar e isso marca sempre a nossa vida presente e futura.
Dói muito mas não podemos fazer nada a não ser rezar por eles.
Nestas alturas fogem as palavras!

Mrs_Noris disse...

Querida Sofia,
Nem sei que diga sobre as dúvidas levantadas no post. Coloquei-me no seu lugar e cheguei à conclusão que talvez poupasse o meu filho das celebrações fúnebres, não o vejo preparado para tal emocionalmente. Eu própria dispensava certas imagens arrepiantes que capturei na infância com a morte das minhas duas avós. Prefiria apenas lembrar-me delas vivas, mesmo sabendo que já partiram para junto de Deus.
Deixo um beijinho carinhoso e desejo muita coragem para superar este momento mais difícil.

Helena Sabino disse...

São sempre momentos muito tristes na vida de qualquer pessoa,mas a realidade é que faz parte do ciclo da vida. Temos de ter muita coragem e muita serenidade para poder explicar aos mais pequenos estes aconteciemntos. Muita força,beijos grandes

Anónimo disse...

Sofia, lamento a tua dor mas todos nós passamos por isso um dia, mas é muito dificil...
É assim o ciclo da vida, mas como explicar aos nossos pequeninos...
O meu filho com 8 anos e a minha filha com 5, disse-lhes que o bisavô que faleceu em Março, era muito velhinho e transformou-se numa estrela e que todas as noites está no céu a brilhar e a olhar por todos nós, esta explicação foi suficiente para a minha filha, mas para o meu filho não, desde essa altura não existe 3 ou 4 dias na semana que não fale no assunto, faz contas quando irá perder os avós e os pais, etc... agora diz-me que não quer morrer e que não quer perder os avós, digo-lhe que ainda falta muito tempo para isso acontecer, ele fica contente mas dentro de 1 ou 2 dias volta a falar no assunto.
Mas levá-lo a um cemitério vou poupá-lo e principalmente a um funeral, que é tão deprimente, à algum tempo atrás ía levar flores ao meu pai e pensei em levá-los mas com esta insistência do meu filho com a Morte, desisti...
Levar crianças a um funeral, não concordo, já ao cemitério levar flores, talvez.
Acho que tudo tem o seu tempo... Eu só senti-me "preparada" para enfrentar um funeral à muito pouco tempo atrás...
Mãe de K